quinta-feira, 13 de março de 2025

PEDRO CHAGAS FREITAS


Zelensky perguntou a Vance:

— Mas já esteve alguma vez na Ucrânia?

— Não, mas vi alguns vídeos.

O mundo moderno num único diálogo.

Não precisamos de ver, de sentir, de entender, de ler.

Basta ver uns vídeos.

Um punhado de imagens editadas, um algoritmo bem afinado — e pronto: sabemos.

Sabemos mais ou menos.

Ficamos mais ou menos com uma ideia.

Somos mais ou menos humanos.

Mais ou menos empáticos.

Mais ou menos pessoas.

A guerra?

Vi uns vídeos.

A crise climática?

Vi uns vídeos.

A economia?

Vi uns vídeos.

O amor?

Vi uns vídeos.

O mundo já não é um lugar de experiência; é um feed infinito de informação descontextualizada.

Ser curioso é um esforço desnecessário.

Ser ignorante é confortável.

O que levas uma vida a estudar eu resumo num vídeo de três minutos.

O que sentiste na pele eu consumo com legendas automáticas.

Ver uns vídeos é a cátedra moderna: a dos charlatães que governam o mundo.

Falam com uma certeza que não têm.

Confundem manchetes com sabedoria.

São os que não duvidam.

Os charlatães sabem tudo.

Sobre tudo.

Da geopolítica à neurociência, do mercado financeiro à arte renascentista.

Basta-lhes um parágrafo do Wikipedia, um vídeo no YouTube, um post no X.

Estão prontos a discursar, a ensinar, a decidir o destino do mundo.

Parecem líderes, parecem sábios, parecem preparados.

Porque parecem, são.

Nós, anestesiados, aceitamos.

Afinal, também vimos uns vídeos. 

3 comentários:

  1. Post com a apologia da má-educação, da espontaneidade e do idiota neonazi. O senso comum dos admiradores dos neonazis ucranianos faz pensar que se conhece melhor a realidade se houver contacto empírico direto das aparências. O conhecimento entraria por osmose, diretamente e límpido, sem necessidade de estudo. Mas, na verdade, a ciência mostra que para conhecer um fenómeno há que estudá-lo. Kant mal viajou, mas conheceu mais do que muitos que andaram para um lado e para o outro. Estudar um país é fazer comparações amplas, ver a linha do tempo por décadas ou séculos, ver estatísticas etc. É ir para além da aparência imediata, é ir além da imediatez. Mas o pequeno-burguês acha que o mais importante é o conhecimento empírico direto. Como se não houvesse tanto idiota em Portugal que conhece pessimamente o seu próprio país.

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  2. Corrigindo:
    Na net há muitos posts com a apologia da espontaneidade presente na afirmação do idiota neonazi quando perguntou: "mas você já foi à Ucrânia?". O senso comum dos admiradores dos neonazis ucranianos faz pensar que se conhece melhor a realidade se houver contacto empírico direto com as aparências. O conhecimento entraria por osmose, diretamente e límpido, sem necessidade de qualquer estudo. Mas, na verdade, a ciência mostra que para conhecer um fenómeno há que estudá-lo. Kant mal viajou, mas conheceu mais do que muitos que andaram para um lado e para o outro. Estudar um país é fazer comparações amplas, ver a linha do tempo por décadas ou séculos, ver estatísticas etc. É ir para além da aparência imediata, é ir além da imediatez. Mas o pequeno-burguês acha que o mais importante é o conhecimento empírico direto. Como se não houvesse tanto idiota em Portugal que conhece pessimamente o seu próprio país. Já dizia Marx: "se a aparência fenoménica e a essência coincidissem diretamente, toda a ciência seria inútil".

    Claro que o contacto direto também conta. Mas não é imprescindível nem é o mais importante. Aliás, esses idiotas nem sequer se apercebem de uma contradição: o epicentro da guerra de que falam encontra-se no Donbass. Quantos jornalistas portugueses estiveram no Donbass? Apenas um, o Bruno Carvalho , que, por acaso, tem um embasamento teórico de suporte mas é censurado por esses mesmos idiotas. Dos jornalistas e comentadores que esses idiotas seguem, o número dos que estiveram no Donbass (de que falam todos os dias) é ZERO.

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    Respostas
    1. Um bom princípio para a troca de ideias, e perspetivas diferentes sobre uma mesma realidade, é identificarmo-nos vinculando as nossas opiniões e posições.
      O insulto anónimo não ajuda ao esclarecimento das situações.
      Um filósofo é uma pessoa que se dedica ao estudo e à reflexão sobre questões fundamentais relacionadas à existência, ao conhecimento, à moralidade, à verdade, à mente, à sociedade, entre outros temas.
      Mas quando falamos de verdade, não nos podemos esquecer que cada um tem a sua verdade, isto é, a sua representação da realidade.

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