Até quando vamos optar pelo silêncio e ignorar o poder que temos?
Nos últimos
dois dias, após a publicação do meu artigo de opinião, recebi centenas de
mensagens e comentários. Palavras de apoio, de revolta, de frustração, mas,
acima de tudo, de resignação.
“És um
verdadeiro exemplo de quem deveria liderar o país… mas lá está! Tens empresa,
és empreendedor… O sistema não o permite. Se fosses arruinavam-te os negócios!
“Devia ir
para o governo, mas cuidado, não estrague a sua vida.”
“O sistema
está montado para destruir quem quer fazer algo pelos portugueses.”
“Não há
ninguém que consiga fugir dele.”
“Sei que não
avança pelas suas empresas, iam acabar com elas.”
“Tem o meu
voto, mas pense no que isso pode fazer à sua família.”
Estas frases,
vindas de cidadãos comuns, são o reflexo de um problema profundo e enraizado: a
perceção de que a política em Portugal não é um espaço para quem quer servir,
mas sim um campo minado onde poucos entram sem se corromper ou sem serem
destruídos.
E a pergunta
que me inquieta é: até quando vamos aceitar isto como um dado adquirido?
Até quando
vamos continuar a ver os melhores profissionais da sociedade – os mais
competentes, os mais íntegros, os mais preparados – recusarem qualquer papel na
política porque sabem que, inevitavelmente, serão atacados, descredibilizados e
usados como alvos de um sistema que protege os que já lá estão?
Até quando
vamos permitir que os que verdadeiramente querem mudar o país fiquem de fora,
porque a política se tornou sinónimo de sacrifício pessoal, destruição
profissional e instabilidade familiar?
O problema
não é apenas dos políticos. É nosso também. Porque nos resignamos. Porque
aceitamos como inevitável. Porque nos calamos.
A democracia
não se esgota no ato de votar. Ela exige cidadãos ativos, exigentes e dispostos
a lutar por uma política que seja, de facto, um espaço de serviço público e não
um palco de interesses pessoais.
Se
continuarmos a afastar da política os mais capazes, quem vai governar? Se
continuarmos a permitir que os jogos de poder sejam mais importantes do que as
pessoas, que país vamos construir?
Portugal tem
de romper com esta cultura de conformismo. Precisamos de coragem para exigir
mais, para apoiar quem quer mudar as coisas e para deixar claro que não
aceitamos uma política de mediocridade e oportunismo.
Se queremos
um país melhor, está na hora de parar de dizer “é assim e sempre será” e
começar a perguntar “como podemos mudar isto?”.
E essa
mudança começa em cada um de nós. No que exigimos. No que aceitamos. No que
estamos dispostos a fazer.
A política
não pode continuar a ser um espaço onde só sobrevive quem faz parte do sistema.
Tem de voltar a ser um espaço onde os melhores querem e podem estar.
Até quando vamos fingir que não temos poder para mudar isso?
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