sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

OS NOVOS ESCRAVOS

Hoje lembrei-me de Martin Luther King, e não foi por acaso, foi por analogia. Mas para percebermos a génese do meu pensamento temos de conhecer quem foi este homem, e o que ele fez pelos negros americanos.

“I have a dream”, assim disse ele no dia 28 de agosto de 1963 em Washington, no seu discurso da aclamada Marcha da Liberdade, que reuniu mais de 250 000 pessoas na capital dos Estados Unidos da América, para clamar, discursar, orar e cantar por liberdade, trabalho, justiça social e pelo fim da segregação racial contra a população negra do país.

Durante o dia, manifestantes de todas as partes do país, cuja maior percentagem era de negros, foram chegando à cidade, muitos deles após percorrerem várias horas por estrada, para participarem na manifestação programada pelas lideranças negras dos EUA, causando grande preocupação ao governo presidido por John Kennedy, um político simpático à causa.

Havia o receio de que a aglomeração acabasse por causar conflitos e transtornos irreparáveis, que prejudicassem a aprovação em curso pelo Congresso da legislação dos direitos civis, e manchasse a imagem do país internacionalmente.

Entretanto, esses temores não se concretizaram, tendo o movimento decorrido com profunda ordem e civismo, e a sua repercussão mundial transformou-o na maior força política para a aprovação das leis de direitos civis e direito de voto, em 1964 e 1965.

Martin Luther King, não tinha apenas um sonho, tinha vários. Foi o último orador desse dia marcante da história, depois de muitas individualidades defensoras da liberdade, dos mais variados quadrantes, terem feito ouvir a sua voz, discursando ou cantando. Tendo nas suas costas a imponente estátua de Abraham Lincoln, o Grande Emancipador, usou os seus talentos retóricos que desenvolvera como pastor batista para enfatizar que o negro ainda não era livre. Pronunciou, então o seu célebre discurso: 

“Eu estou contente em unir-me convosco no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história da nossa nação. (…)

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississípi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos, e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão fluam como águas de uma poderosa corrente. (…)

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado da sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos, poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississípi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que as minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver numa nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter.

Eu tenho um sonho hoje!”

Em outubro de 1964, Martin Luther King foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. O seu ativismo e as conquistas alcançadas acirraram o ódio de muitos segregacionistas do sul, o que culminou no seu assassinato em 4 de abril de 1968, na varanda de um motel em Memphis, Tennessee, quando ele tinha 39 anos.

Em 1986 foi estabelecido o Dia de Martin Luther King como feriado nacional nos Estados Unidos, na terceira segunda-feira do mês de janeiro, data próxima ao seu aniversário de nascimento. Em 1993, pela primeira vez, o feriado foi cumprido em todos os estados do país.

O sonho dele concretizou-se na sua máxima expressão em 20 de janeiro de 2009, com a tomada de posse de Barack Obama como 44º Presidente dos Estados Unidos da América, o primeiro presidente Negro da sua história, dando lugar a uma nova expressão universal: “Yes, we can”.

Sem dúvida que o sonho de Martin Luther King se tornou realidade, quanto ao fim da discriminação racial que existia na América, nos anos sessenta do século passado. Lamentável é, que volvidos mais de sessenta anos, continuemos a ter muitos outros tipos de discriminação. Erguem-se muros, deportam-se pessoas, separam-se famílias.

Recuemos ainda mais um século, até 1863, ano em que Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos, aboliu a escravatura no país. Foi o primeiro passo para a libertação dos negros, mas cem anos depois, continuavam a ser discriminados.

Hoje, o processo migratório é responsável por muitas discriminações semelhantes à racial, que se verificava nos séculos anteriores. De forma mais sofisticada, numa sociedade pretensamente mais evoluída e plural, fomentam-se ideias xenófobas e chauvinistas que conduzem a uma nova forma de escravatura.

 

"Enquanto houver um homem escravizado, nenhum homem é verdadeiramente livre."

Abraham Lincoln (16º presidente dos Estados Unidos)


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Letras&ideiaS

Faz hoje um mês que criei este blogue, em 27 de janeiro de 2025.

O principal objetivo desta iniciativa é a divulgação das minhas crónicas datadas, que refletem o meu olhar crítico, e a maior parte das vezes severo, sobre o que se passa no Mundo.

Resolvi, com a intensão de conferir um ambiente mais leve e descontraído a este espaço, criar outras rubricas (etiquetas) para além das crónicas, que relembrem acontecimentos, imagens e individualidades que marcaram a nossa história.

A seguir à imagem, apresento uma pequena explicação sobre o tipo de conteúdo de cada uma das rubricas.











Crónica: Textos originais meus, principal motivação da criação do blogue.

Frase do dia: Frases de celebridades, que de alguma forma estejam relacionadas pelo conteúdo, ou pelo autor, com a data da sua publicação.

Grandes líderes: Mais do estritamente líderes, esta categoria de conteúdos, pretende recordar personagens influentes da história da humanidade.

Hoje aconteceu: Neste espaço, relembram-se factos marcantes ocorridos na data da publicação.

Imagens que falam por si: Criada ontem, esta rubrica pretende mostrar imagens impactantes, identificando o autor sempre que for possível, sem palavras, para que cada um possa interpretar livremente o que observa.

Não sou eu que digo: Nesta rubrica partilho textos de outros autores, identificando-os, cujo conteúdo me tenha tocado e que sinto necessidade de o partilhar.

A imagem que se encontra acima é referente ao ambiente de navegação que o blogue apresenta na versão web. Acedendo através do telemóvel, a apresentação é diferente não sendo visíveis as rubricas (etiquetas), pelo que não é possível selecionar o tipo de conteúdo que se pretende aceder (por exemplo, só crónicas, clicando na respetiva etiqueta). O ambiente apresentado no telemóvel é o da imagem seguinte:





















Se fizer rolar o ecrã até ao fim, encontrará um botão que lhe permite mudar para a versão web no telemóvel, embora a imagem fique muito reduzida. Contudo, nesta modalidade, poderá usar o zoom do ecrã, aumentando a imagem para um tamanho que lhe permita uma navegação confortável.

A imagem seguinte mostra o que acabei de descrever.

Boas leituras!




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

SELF MADE MAN

    Autor: Bobbie Carlyle


VICTOR HUGO

"A liberdade começa onde a ignorância termina."

Numa época em que a ignorância de uns condiciona a liberdade dos outros, recordar Victor Hugo com esta frase da sua autoria é imperativo.

Victor Hugo foi um poeta, romancista e dramaturgo francês, nascido em 26 de fevereiro de 1802, em Besançon, França, e falecido em 22 de maio de 1885, em Paris. É amplamente considerado um dos escritores mais importantes do movimento romântico francês.

Autor de obras literárias icônicas, como "Notre-Dame de Paris" (1831), também conhecida como "O Corcunda de Notre-Dame", e "Os Miseráveis" (1862), ele também foi um ativista político e social, defendendo os direitos humanos e causas como a abolição da pena de morte.

Durante sua vida, enfrentou o exílio político, devido às suas opiniões contrárias ao regime de Napoleão III, mas continuou a escrever e a influenciar a literatura e a política francesa. É recordado pela sua capacidade de capturar as alegrias e tristezas comuns da vida, bem como pela sua originalidade verbal e virtuosidade na sua técnica de escrita.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

RICARDO COSTA

ONLINE NÃO É REAL!


Vivemos tempos perigosos. O espelho digital das redes sociais mostra apenas o lado perfeito das coisas, tal como esta maçã: bonita, brilhante, sem defeitos. Mas o que está fora do reflexo? A realidade nua e crua, com imperfeições, cicatrizes e falhas que fazem parte da vida de qualquer pessoa.

O problema? Cada vez mais gente — sobretudo os jovens — guia-se por este reflexo falso, acreditando que a felicidade tem um filtro, que o sucesso vem sem esforço e que a vida dos outros é perfeita. Passam horas a comparar-se com realidades fabricadas, sem perceber que aquilo que veem é apenas uma fração cuidadosamente escolhida, editada e encenada.

O impacto disto? Ansiedade, depressão, baixa autoestima e um afastamento cada vez maior da realidade. Como se pode ser feliz se achamos que nunca somos bons o suficiente? Como se pode construir uma vida autêntica quando nos sentimos constantemente em desvantagem face a um ideal impossível?

As redes sociais não são o problema. O problema é acreditarmos cegamente no que nos mostram. É hora de ensinar aos mais novos que a vida real tem altos e baixos, que a felicidade não se mede por likes e que ninguém tem uma existência perfeita — nem mesmo aqueles que parecem ter.

Precisamos de mais realidade e menos ilusão. 

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7293178470812049410/

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

RIVIERA DO MÉDIO ORIENTE

A tentação do Homem de se apropriar do que não lhe pertence não é de hoje. Temos imensos exemplos na história. Nessa ânsia de conquista, podemos constatar situações em que líderes alucinados e gananciosos investiam sozinhos contra tudo e contra todos, e outras em que uma maior clarividência levava-os à divisão dos territórios desejados.  

Um destes exemplos foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, entre Portugal e Espanha, que dividiu as terras recém-descobertas no Novo Mundo entre os dois reinos. Estabeleceu uma linha imaginária a 370 léguas, cerca de 1.770 quilómetros, a oeste das Ilhas de Cabo Verde, determinando que as terras a leste dessa linha pertenciam a Portugal e as terras a oeste, à Espanha.

O tratado foi resultado da rivalidade entre os dois países na era dos descobrimentos, que aumentou com a chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492. Foi intermediado pelo Papa Alexandre VI, que inicialmente estabeleceu a linha de demarcação a 100 léguas de Cabo Verde, mas Portugal pressionou para movê-la mais para o oeste, permitindo a Portugal garantir o território que mais tarde seria o Brasil, descoberto por Pedro Álvares Cabral em 1500.

O tratado não levou em consideração outros povos e potências europeias, o que gerou conflitos posteriormente. Portugal e Espanha, com a sua política expansionista, julgavam-se os donos do mundo. Com o tempo, a expansão portuguesa para o interior do Brasil ultrapassou os limites do tratado, o que deu origem ao Tratado de Madrid, em 1750, que redefiniu as fronteiras.

Como exemplo de um líder ambicioso e independente, recordemos Napoleão Bonaparte que se autoproclamou Imperador da França em 2 de dezembro de 1804, durante uma grandiosa cerimónia na Catedral de Notre Dame, em Paris. O evento ficou marcado pelo facto de Napoleão ter tomado a coroa das mãos do Papa Pio VII, colocando-a na sua própria cabeça, simbolizando que o seu poder não vinha da Igreja, mas sim dele mesmo.

A coroação marcou o início do Primeiro Império Francês (1804-1814) e consolidou Napoleão como uma das figuras mais poderosas da Europa. O seu governo trouxe importantes reformas, como o Código Napoleónico, mas também levou a uma série de guerras contra outras potências europeias.

Napoleão Bonaparte tinha grandiosas ambições expansionistas e ansiava transformar a França na potência dominante da Europa e do mundo. Os seus objetivos iam além da simples conquista de territórios. Ele queria criar um império estável e unificado sob influência francesa, espalhando os ideais da Revolução Francesa e consolidando o seu próprio poder.

Para além de querer substituir as monarquias absolutistas por governos aliados à França, Napoleão via o Reino Unido como o seu maior inimigo, pois os britânicos financiavam alianças contra a França e tinham uma poderosa marinha. Tentou invadir a Inglaterra, mas foi derrotado na Batalha de Trafalgar, em 1805.

Após uma aliança inicial, entrou em conflito com a Rússia de Alexandre I, e decidiu invadi-la em 1812. A Campanha da Rússia foi um desastre. O exército francês enfrentou resistência feroz, falta de suprimentos e o inverno rigoroso, que resultaram numa derrota catastrófica.

A expansão no Mediterrâneo e Norte da África, assim como a tentativa de controlo da América e do Atlântico, acabaram por o conduzir ao fracasso e à queda do seu domínio. Apesar da sua genialidade militar, Napoleão não conseguiu manter o controlo sobre as suas conquistas. A sua derrota na Rússia e o fracasso final em Waterloo, em 1815, marcaram o fim do seu império. Ele foi exilado e morreu em 1821 na ilha de Santa Helena.

Napoleão tentou construir um império global, mas a sua visão mostrou-se insustentável diante das rivalidades europeias e das dificuldades logísticas. Ainda assim, as suas campanhas mudaram a história e a geopolítica da Europa para sempre.

Recentemente, Donald Trump, anunciou um plano controverso para a Faixa de Gaza. Ele propôs que os EUA assumam o controlo do território, com o objetivo de o transformar numa "Riviera do Médio Oriente". O plano inclui o deslocamento dos palestinianos que atualmente vivem em Gaza para países vizinhos, como o Egito e a Jordânia, e a reconstrução da área com investimentos em infraestruturas turísticas e comerciais. Os Estados Unidos manteriam uma "posição de propriedade de longo prazo" sobre Gaza, não descartando a possibilidade do uso de tropas americanas para apoiar a reconstrução do território, caso seja necessário.

Em articulação com Benjamin Netanyahu, Trump propõe que os territórios ocupados pelos israelitas na Cisjordânia passem a integrar o estado de Israel, e que os palestinianos que aí habitam, acompanhem os seus conterrâneos da Faixa de Gaza no deslocamento para os países vizinhos. De notar que em 1947, a proposta de criação do Estado judaico veiculada pela ONU contemplava um território de aproximadamente 14.000 km². Atualmente, o Estado de Israel tem uma área total de cerca de 22.000 km².

Compreendo, ainda que com alguma dificuldade, justificável pelos quinhentos anos que me separam desse momento, o propósito de Portugal e a Espanha dividirem o mundo, com o objetivo de dominarem o comércio de produtos orientais muitos valorizados, e que permitiam assegurar o financiamento da sua política expansionista e de descoberta.

Entendo que Napoleão quisesse acabar com a realeza europeia, inspirado pelos ideais da Revolução Francesa, e ambicionasse ser visto como um homem capaz de mudar a história. Contrariamente a Trump, Napoleão era uma pessoa culta, com grande interesse por história, literatura, filosofia, ciências e direito. Admirava figuras como Alexandre, o Grande, Júlio César e Carlos Magno. Tinha fascínio pelas ideias dos filósofos do Iluminismo, como Rousseau, Voltaire e Montesquieu. Gostava de obras clássicas e literatura francesa, que incluíam Homero, Plutarco, Corneille e Racine. 

Donald Trump apenas se move por interesses económicos e populistas. Não lhe interessam temas como literatura, filosofia ou arte. É reconhecido pela sua habilidade em negócios, comunicação política e o seu estilo de liderança, embora este possa ser discutível.

Quer dominar o mundo, mas deixando que outros façam o trabalho sujo. Reveste-se sempre de uma aura de salvador do povo, e defensor dos direitos dos americanos. Impressiona quem não tem escrúpulos e busca uma figura paternal forte. Só assim se pode entender, que queira dominar um território destruído, expulsando a população que sempre o habitou, a troco dos dividendos que obterá com o seu investimento na reconstrução. Talvez a pouca cultura que tenho, embora, sem imodéstia, superior à de Trump, não me deixe compreender que coerência existe entre as deportações dos imigrantes nos EUA e o deslocamento dos palestinianos da Faixa de Gaza.

Talvez a História o consiga explicar, um dia… 

 

"Não se pode usurpar impunemente os direitos dos outros."

Voltaire (escritor, historiador e filósofo francês do Iluminismo)


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

NINA SIMONE

Nina Simone, nome artístico adotado por Eunice Kathleen Waymon, nasceu em 21 de fevereiro de 1933, em Tryon, Carolina do Norte. Foi uma cantora, compositora, pianista e ativista dos direitos civis americana. Ela é amplamente reconhecida pela sua contribuição à música e à luta pelos direitos civis.

Começou a tocar piano aos três anos de idade e demonstrou um talento prodigioso. Estudou música clássica com uma professora inglesa chamada Muriel Mazzanovich, e desenvolveu uma profunda paixão por compositores como Bach, Chopin, Brahms, Beethoven e Schubert.

Após terminar o ensino médio, a comunidade local arrecadou dinheiro para que ela pudesse estudar na Juilliard School of Music, em Nova Iorque. No entanto, os seus sonhos de se tornar uma pianista clássica foram frustrados quando foi negada a sua admissão no Curtis Institute of Music, em Filadélfia, causa que ela atribuiu ao racismo.

Para ganhar a vida, começou a tocar piano num clube noturno em Atlantic City, onde foi obrigada a cantar para se acompanhar ao piano. Foi nesse momento que adotou o nome artístico de "Nina Simone", com o objetivo de evitar que a sua família soubesse que ela estava interpretando a "música do diabo".

Entre 1958 e 1974, Nina Simone lançou mais de 40 álbuns. O seu primeiro grande sucesso foi "I Loves You, Porgy", em 1959, que alcançou o Top 20 da Billboard Hot 100. A sua música abrangeu diversos estilos, incluindo jazz, blues, soul, gospel e música clássica. Ela é conhecida pela sua voz contralto expressiva e pela sua habilidade de tocar piano, influenciada pela música barroca e clássica.

Durante os anos sessenta, tornou-se uma figura proeminente no movimento de luta pelos direitos civis. As suas canções de protesto, como "Mississippi Goddam", refletiam a sua frustração com o racismo e a injustiça social nos Estados Unidos. Após o assassinato do seu amigo Martin Luther King Jr., em 1968, ela deixou os Estados Unidos e fixou residência em França.

Atuou na Europa, África e Caribe durante as décadas de setenta, oitenta e noventa. Em 1991, publicou a sua autobiografia, "I Put a Spell on You", e continuou a atrair audiências até à sua morte em 21 de abril de 2003, em Carry-le-Rouet, França.

Nina Simone é lembrada como uma das maiores cantoras de todos os tempos e uma defensora incansável dos direitos civis. A sua música e o seu legado continuam a inspirar gerações. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

MUSEU METROPOLITANO DE ARTE DE NOVA IORQUE

Há 153 anos, em 20 de fevereiro de 1872, The Met, como é conhecido o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque, abria pela primeira vez as suas portas ao público.

 Localizado na Quinta Avenida, em Manhattan, possui uma coleção permanente que abrange mais de dois milhões de obras de arte. As suas coleções incluem arte da Antiguidade Clássica e do Antigo Egito, pinturas e esculturas de mestres europeus, e uma vasta coleção de arte moderna americana.

Além disso, o museu alberga galerias dedicadas à arte africana, asiática, oceânica, bizantina e islâmica. Possui coleções enciclopédicas de instrumentos musicais, vestimentas e acessórios antigos, além de armamentos clássicos de várias partes do mundo.

É conhecido não apenas pela sua vasta coleção permanente, mas também pelas suas exposições temporárias, conferências e iniciativas artísticas que atraem milhões de visitantes todos os anos. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A DEMOCRACIA TEM DESTAS COISAS

Vivemos uma época em que somos surpreendidos todos os dias. Atrevo-me a falar na primeira pessoa do plural, porque julgo não ser o único a viver esta experiência.

Não me refiro aos avanços tecnológicos que evoluem a um ritmo alucinante, impulsionados pelo desenvolvimento da Inteligência Artificial, que urge regular para salvaguarda da humanidade, nem à propaganda, pois informação praticamente não existe, sobre as guerras absurdas que grassam pelo mundo.

Basta-me olhar para o que se passa no meu país diariamente, aonde vivemos em democracia há cinquenta anos, embora muitos portugueses não saibam o que isso é. Mas a surpresa começa, não por esse desconhecimento poder estar presente nalguns cidadãos comuns, mas por se encontrar em indivíduos eleitos democraticamente, para representar o povo.

Recordemos que a democracia é um sistema de governo onde o poder reside no povo. Essa forma de governação permite que os cidadãos participem diretamente, ou por meio de representantes eleitos, na tomada de decisões políticas. É o que acontece com a composição da nossa Assembleia da República, materializada por duzentos e trinta deputados eleitos pelo povo, através de um sistema eleitoral chamado representação proporcional.

O que se espera destes representantes é que, com educação e civismo, defendam as suas ideias, debatendo-as no parlamento visando um único objetivo, que passa por encontrar as melhores soluções governativas para o desenvolvimento e bem-estar das populações que representam.

Ora o ataque pessoal entre deputados, é algo que em nada contribui para o objetivo que se comprometeram a realizar, e para o qual são pagos. O parlamento não é uma arena, em que pessoas de diferentes partidos políticos se digladiam, como se competissem numa prova de alto nível, para saírem vitoriosos. Esta assembleia deve ser um espaço de debate ordeiro e construtivo, do qual resultem estratégias cooperativas que garantam soluções que sirvam o interesse popular e da Nação.

Ora o que assistimos esta semana, no hemiciclo da nossa casa da democracia, é degradante, e demonstra o grave erro coletivo cometido por alguns portugueses, ao elegerem deputados do Chega para os representarem.

Como é possível que interpelem a deputada do Partido Socialista, Ana Sofia Antunes, que é invisual congénita, após a intervenção que realizou num debate parlamentar sobre crianças com necessidades educativas especiais, alegando que ela apenas intervém em assuntos que infelizmente envolvem a deficiência.

Mas, a infelicidade congénita das intervenções dos deputados do Chega não ficou por aqui. Confundindo, e não sabendo distinguir, como já o comprovaram em muitas ocasiões, o que é liberdade de expressão e o que é insulto, brindaram a deputada socialista com caricias linguísticas, tais como “pareces uma morta”, “aberração” e “drogada”.

Ironicamente, parece-me que o único deputado do Chega que tem razão é o André Ventura. Compreendo que o processo de recrutamento de militantes para o partido, donde saíram os deputados eleitos, não tenha sido fácil. Com tantos anos de democracia, o obscurantismo que está presente nestes indivíduos deve ser uma característica rara de encontrar.

Nesta seleção de ilustres desconhecidos do líder do partido, para integrarem as listas de candidatos eleitorais, seria difícil colocar questões pertinentes, em que as respostas facilmente se antecipariam, mesmo que fossem mentira, tais como:

- Tu és educado, empático e perspicaz?

- Tu alguma vez roubaste, ou pensas vir a roubar, sobretudo malas em aeroportos?

- Tu alguma vez praticaste atos pedófilos, ou achas que podes vir a praticar, ainda que os menores possam parecer ter mais de dezoito anos?

- Tu costumas emborrachar-te, ou pensas vir a fazê-lo, em tainadas com amigos e depois conduzir com uma taxa de alcoolemia cinco vezes superior à que é permitida por lei?

Sim, compreendo que estas perguntas não se fazem, pois já sabemos as respostas. Fiz muitas entrevistas de seleção de pessoal ao longo da minha vida profissional, e tinha um rol de perguntas proibidas que só consumiam tempo e não forneciam qualquer informação relevante.

Por isso dou razão ao André Ventura, e compreendo a caixa de pandora que abriu.

A democracia tem destas coisas. Não se pode proibir o que não é proibido até passar a sê-lo. Precisamos de rever o nosso plano nacional de leitura, e instituir um exame obrigatório de admissão a deputado, ou qualquer outro cargo político, baseado no livro de José Saramago, "Ensaio sobre a Lucidez".

 

"A democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo."

Abraham Lincoln (16º presidente dos Estados Unidos)


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

GEORGE BERNARD SHAW

"A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos.

Esta frase é de George Bernard Shaw, dramaturgo, crítico, ensaísta e ativista político irlandês, nascido em 26 de julho de 1856, em Dublin, e falecido em 2 de novembro de 1950, em Ayot St Lawrence, Inglaterra.

Ele é conhecido pelas suas contribuições significativas ao teatro e à literatura, tendo escrito mais de 60 peças, incluindo obras importantes como "Homem e Super-Homem" (1905), "Pigmalião" (1913) e "Santa Joana" (1923).

Shaw foi um defensor fervoroso do socialismo e um dos membros mais proeminentes da Fabian Society, uma organização socialista britânica. Também foi um crítico social e político, utilizando as suas peças para disseminar as suas ideias sobre política, sociedade e religião.

Além do seu trabalho no teatro, recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1925 e um Óscar em 1938 pelo roteiro do filme "Pigmalião", baseado na sua peça de mesmo nome. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

THOMAS J. WATSON JR.

Thomas J. Watson Jr. nasceu em 17 de fevereiro de 1874, em Campbell, Nova Iorque. Foi presidente e CEO da IBM, de 1914 a 1956, supervisionando o crescimento da empresa até a transformar numa das maiores companhias a nível mundial.

Foi um líder visionário que transformou a IBM numa potência global. Ficou conhecido pela sua abordagem centrada nas pessoas, e por criar uma cultura corporativa que valorizava os funcionários e a inovação.

Assumiu a Computing-Tabulating-Recording Company (C-T-R) em 1914, e em 1924 alterou a sua denominação social para International Business Machines (IBM). Sob a sua liderança, a IBM tornou-se líder do setor de máquinas de tabulação e computadores.

Acreditava na importância de respeitar e desenvolver os colaboradores, tendo implementado um ethos centrado nas pessoas, que persiste na IBM até hoje.

Incentivou a criatividade e a excelência, adotando o lema "Think!" (Pense!), investindo fortemente na educação dos funcionários e na pesquisa e desenvolvimento, o que ajudou a IBM a superar os seus concorrentes.

Conhecido como "o maior vendedor do mundo", desenvolveu habilidades de vendas que elevaram a IBM a novos patamares. Ensinou uma nova geração de profissionais a vender, o que foi crucial para o sucesso da empresa.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

TENS DE DEIXAR DE DORMIR PARA COMERES

Dez dias após as eleições americanas de 2024 para eleger o novo presidente, que sufragaram Donald Trump como sucessor de Joe Biden, assistimos às surpreendentes nomeações para a nova administração.

Não sendo uma surpresa, dado o seu envolvimento em toda a campanha eleitoral do novo presidente, Elon Musk, fundador, CEO e engenheiro-chefe de várias empresas de destaque, incluindo Tesla, SpaceX, Neuralink e The Boring Company, foi nomeado para o cargo de copresidente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Esse departamento tem como objetivo principal reduzir a burocracia governamental, cortar gastos desnecessários e reestruturar agências federais. Irá trabalhar ao lado de Vivek Ramaswamy para implementar essas mudanças e trazer uma abordagem mais eficiente e empresarial para o governo. 

Vivek Ramaswamy é um empresário e autor americano de origem indiana. Ele é conhecido por ser o fundador da Roivant Sciences, uma empresa de biotecnologia que se concentra em desenvolver novos medicamentos através de parcerias com outras empresas e instituições de pesquisa. Além disso, Vivek é autor do livro "Woke, Inc.: Inside Corporate America's Social Justice Scam", onde ele critica a cultura de "woke" dentro das empresas americanas.

A cultura "woke" é um movimento social que surgiu nos Estados Unidos e ganhou força globalmente. O termo "woke" significa literalmente "acordado" e, metaforicamente, refere-se a estar ciente e consciente das injustiças sociais, especialmente aquelas relacionadas à raça, género e identidade de género.

Esta filosofia envolve a conscientização e a luta contra a discriminação e a desigualdade, promovendo a inclusão e a justiça social. Ela abrange uma ampla gama de questões, incluindo racismo, sexismo, homofobia, transfobia e outras formas de opressão.

É também frequentemente associada ao ativismo e à defesa dos direitos civis, com muitas pessoas e organizações usando as suas plataformas para chamar a atenção para essas questões e promover mudanças.

Hoje, Elon Musk anunciou medidas de recrutamento para o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Está procurando "sobredotados", com um QI elevado, dispostos a trabalhar mais de 80 horas por semana para ajudar a reduzir custos e cortar gastos desnecessários no governo federal. Ele mencionou que apenas 1% dos melhores currículos enviados serão analisados, e que o trabalho será tedioso e sem salário.

Sem dúvida que o mundo está a mudar! Mas qual será a motivação de uma pessoa para aceitar uma ocupação deste tipo? Sim, tive de buscar a palavra que melhor traduzisse o que está em jogo, pois julgo estarem desadequadas designações como trabalho, ou emprego.

Traduzindo, em termos operacionais, o que significam mais de oitenta horas numa semana, poderemos dizer que é metade do tempo total disponível. Uma semana de sete dias, passo a redundância, tem cento e sessenta e oito horas, pelo que se forem ocupadas cinquenta por cento a “trabalhar”, todos os dias sem folgas, sobrarão, diariamente, doze horas para todo o resto. 

Continuando a distribuir o tempo livre, se forem dedicadas oito horas para dormir, ficarão quatro horas para alimentação, higiene pessoal, e demais atividades essenciais a uma vida (humana), que garantam a manutenção existencial.

Quando cedemos à tentação de governar uma nação do mesmo modo que gerimos uma empresa, ou gostaríamos de gerir, corremos o risco de entrar num processo de autodestruição por falta de equilíbrio.

Com a globalização e o desenvolvimento tecnológico, o conhecimento e a informação democratizaram-se, passando a estar acessíveis com um simples clique. Como consequência, passamos a ter uma população mais informada e exigente, produtos e serviços cada vez mais semelhantes, preços concertados ou com variações mínimas, em que o atendimento personalizado faz a diferença. O mesmo é dizer, que o investimento em capital humano se tornou essencial, como forma de diferenciação.

Há muitos anos que trabalho na área do desenvolvimento de pessoas, e acredito que só conseguimos ter um rendimento de alto nível, se proporcionarmos bem-estar e equilíbrio entre vida profissional e pessoal aos colaboradores.

Será que no futuro teremos de optar entre comer ou dormir, para termos tempo para trabalhar?

 

"Você não pode fazer um bom trabalho se o seu trabalho é tudo o que você faz."

Marc Andreessen (empresário e investidor americano)


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

ANÓNIMO (Trump)

"Então, votaram para construir um muro? Pois bem, meus caros americanos, mesmo que não compreendam muito de geografia, já que para vocês a América é o vosso país e não um continente, é importante que, antes de colocarem os primeiros tijolos, descubram o que deixam do lado de fora desse muro.

Existem cerca de 7,7 mil milhões de pessoas do outro lado do muro. Mas, como não estão habituados ao termo 'pessoas', chamemos-lhes consumidores.

Há cerca de 7,7 mil milhões de consumidores dispostos a substituir o iPhone por um Samsung ou Huawei em menos de 42 horas. Também podem trocar Levi’s por Zara ou Massimo Dutti. Em menos de meio ano, podem facilmente deixar de comprar veículos Ford ou Chevrolet e substituí-los por um Toyota, KIA, Mazda, Honda, Hyundai, Volvo, Subaru, Renault, BMW, Mercedes ou Fiat, que, tecnicamente, são muito superiores aos carros que produzem.

Esses 7,7 mil milhões de consumidores também podem deixar de assinar a Direct TV e, embora não desejássemos isso, podem parar de ver filmes de Hollywood e optar por mais produções latino-americanas ou europeias, que oferecem qualidade, mensagem, técnicas cinematográficas e conteúdo superiores. Por incrível que pareça, podemos ignorar a Disney e escolher o Parque Xcaret, em Cancún, ou explorar o Canadá, a Europa e muitos outros destinos de excelência na América do Sul e no Oriente. E, mesmo que não acreditem, até no México há hambúrgueres melhores do que os do McDonald’s, com melhor valor nutricional.

Já alguém viu uma pirâmide nos Estados Unidos? No Egito, México, Peru, Guatemala, Sudão e outros países, existem pirâmides associadas a culturas incríveis.

Descubram onde estão as maravilhas do mundo antigo e moderno…

Nenhuma delas está nos Estados Unidos. Que pena para Trump! Se pudesse, teria comprado e revendido todas.

Sabemos que a Adidas e muitas outras marcas excelentes existem, não apenas a Nike, e podemos começar a consumir ténis mexicanos como o Panam. Sabemos muito mais do que imaginam. Sabemos, por exemplo, que, se esses 7,7 mil milhões de consumidores deixarem de comprar os vossos produtos, haverá desemprego e a vossa economia (isolada dentro do vosso muro racista) colapsará, até ao ponto de terem de implorar para que o derrubemos.

Não queríamos, mas… vocês quiseram um muro. Então, terão um muro.

Cordialmente,

O resto do mundo.

Partilhem, porque nós, os 7,7 mil milhões de consumidores, somos mais de 20 vezes os prisioneiros de Trump!" 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

SLOBODAN MILOŠEVIĆ

Em 12 de fevereiro de 2002, começava o julgamento de Slobodan Milošević no Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (TPIJ), que durou até à sua morte em 11 de março de 2006.

Slobodan Milošević (1941-2006) foi um político sérvio que desempenhou um papel central nos conflitos nos Balcãs durante os anos 1990. Ele foi presidente da Sérvia (1989-1997) e depois da República Federal da Jugoslávia (1997-2000).

Milošević é conhecido pelo seu nacionalismo sérvio e pela responsabilidade que teve na eclosão das Guerras Jugoslavas, que resultaram na dissolução da Jugoslávia e em graves crimes de guerra, incluindo limpeza étnica, genocídio e crimes contra a humanidade. Ele foi um dos principais arquitetos das guerras na Croácia (1991-1995), Bósnia (1992-1995) e Kosovo (1998-1999).

Após perder o poder em 2000, foi extraditado para o Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (TPIJ), em Haia, onde foi julgado por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. No entanto, Milošević morreu em 2006, antes de o julgamento ser concluído.

Ele continua sendo uma figura controversa. Alguns sérvios veem-no como um líder que tentou defender os interesses da Sérvia, enquanto para outros, ele foi um ditador responsável por tragédias e sofrimento em massa.

Não é demais recordarmos estes anos dramáticos que se viveram no leste europeu no final do século passado, quando assistimos ao que hoje se passa na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Recorde-se ainda, que o Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia (TPIJ) teve um papel importante na gênese do Tribunal Penal Internacional (TPI), estabelecido em 2002.

O TPIJ foi um dos primeiros tribunais internacionais criados após a Segunda Guerra Mundial para julgar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. A sua atuação, juntamente com a do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), ajudou a consolidar a ideia de que a comunidade internacional precisava de um tribunal permanente para lidar com esses crimes.

As experiências do TPIJ e do TPIR mostraram tanto a viabilidade quanto os desafios dos tribunais internacionais, influenciando diretamente a formulação do Estatuto de Roma, tratado que estabeleceu o TPI. Enquanto o TPIJ e o TPIR eram tribunais ad hoc, criados para casos específicos, o TPI surgiu como uma corte permanente, com jurisdição mais ampla e independente.

Portanto, o TPIJ foi um passo essencial na evolução da justiça penal internacional, contribuindo para o desenvolvimento das normas e práticas que culminaram na criação do TPI. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

NELSON MANDELA

"Não há caminho fácil para a liberdade.”


Esta frase é da autoria de Nelson Mandela, e reflete a luta e a resiliência dele na busca pela justiça e igualdade na África do Sul.

Faz hoje 35 anos que foi libertado da prisão, em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de encarceramento. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

CHEGA, DE VERGONHA

Coloquei propositadamente a virgula no título desta crónica. Mas, poderia intitulá-la eliminando a virgula. “Chega de vergonha”, ou o mesmo será dizer a vergonha do Chega.

Na passada sexta-feira, 29 de novembro de 2024, o ex-primeiro ministro de Portugal António Costa, tomou posse de um dos cargos mais importantes e prestigiados da política europeia – Presidente do Conselho Europeu. Esperava-se que esta fosse a notícia de maior destaque nos jornais televisivos da noite, após a inexplicável abertura destes serviços informativos, dois dias antes, pelo atual primeiro-ministro Luis Montenegro, que se dirigiu aos portugueses como se estes fossem meninos na instrução primária. Com efeito, espantosamente, foi o Chega, com o seu grupo de deputados arruaceiros, que maior destaque teve nas notícias do dia.

As surpresas da política portuguesa sempre ocorrem em momentos que ofuscam o que, de facto, é relevante. Foi o caso desta sexta-feira, com o Chega como protagonista. Cometendo aquilo que muitos consideram como crime, que do ponto de vista legal não sei avaliar, mas que ética e moralmente considero reprovável e inaceitável, os deputados deste partido (assim lhe chamam) penduraram faixas nas janelas do parlamento, com montagens de fotografias de líderes políticos, protestando contra o fim do corte de 5% nos vencimentos dos titulares de cargos políticos. Isto impediu o arranque da discussão do orçamento para 2025 no semicírculo da Assembleia, tendo o presidente necessidade de pedir a intervenção dos bombeiros para a retirada das faixas pelo exterior.

Não satisfeitos com este espetáculo degradante, os deputados do Chega levantaram cartazes com a mensagem "Este parlamento perdeu a vergonha", no momento em que o presidente da Assembleia anunciava a aprovação do orçamento.

Estes atos do Chega na Assembleia da República, segundo alguns comentadores, podem ser juridicamente considerados como uma forma de protesto político, protegido pelo direito à liberdade de expressão e manifestação. Porém, outros defendem que se trata de atos classificados como desordem e perturbação da ordem pública, de acordo com as regras e regulamentos internos da Assembleia da República. Embora não tenha dúvidas de que o Ministério Público irá investigar esta situação, temo que possa não existir forma de legalmente condenar estes comportamentos, por não se encontrarem previstos nos regulamentos que gerem a atuação dos deputados.

A ausência de regulamentação para estas ocorrências, resulta da existência de um pensamento democrático que parte do princípio de que seria impensável que este tipo de atos acontecessem. Efetivamente, não podemos criticar o legislador, que se materializa na própria Assembleia da República, constituída por deputados eleitos pelo povo. Lamentável é que uma parcela deste povo, os eleitores do Chega, atentem, de forma involuntária e inconsciente, contra um estado democrático com meio século de existência, ao elegerem estes vândalos engravatados para os representarem no nosso parlamento.

Sem desmerecer da importância do julgamento e respetiva punição no âmbito jurídico, deste comportamento degradante e inaceitável, numa democracia com cinquenta anos de existência, que no início desta mesma semana recordava os acontecimentos do dia 25 de novembro de 1975, preocupa-me a falta de dignidade presente neste grupo parlamentar, com principal relevância e evidência no seu líder, André Ventura.

Que me perdoem os seus pais, pois a realidade neste caso é dolorosa, mas eu teria vergonha deste filho, mesmo que a sua conceção tivesse resultado de um acidente. Falo sem “papas na língua”, dado que sou pai de um único filho, mais velho um ano que este individuo. Apesar de todos os meus esforços, sem sucesso, tenho procurado sensibilizá-lo para que cumpra um dos seus deveres cívicos, o direito de voto, ao qual sempre renunciou, por não confiar na nossa classe política.

Creio que o recente sucesso eleitoral do Chega se consubstancia na mesma génese, mas resultante de um comportamento contrário ao do meu filho que, um pouco irresponsavelmente, vira as costas ao mundo e deixa andar. Tal como noutros países europeus, em que o crescimento de movimentos políticos ligados à extrema-direita é uma realidade, este partido encontrou um espaço no cenário político português em que a promessa vale mais do que a ação. Assim, André Ventura tem conquistado uma turma eleitoral de insatisfeitos, desiludidos e preguiçosos que acreditam que com insolência e voz grossa se resolve tudo.

Pena é que desconheçam, ou se tenham esquecido, do que António Oliveira Salazar dizia sobre a educação. Sem dúvida que é uma arma muito perigosa, quando pretendemos dominar um povo através da opressão e da ignorância. Contudo, é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária, algo que não passa pelos ideais do líder do Chega.

Termino, dizendo ao André Ventura, como se fosse meu filho (salvo seja): “Vê se és mais educado, e ganhas vergonha na cara!”


"A vergonha é a cicatriz que a moralidade deixa na alma."

Friedrich Nietzsche (filósofo, poeta e compositor prussiano)

 


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

CHARLES DICKENS

Hoje, 7 de fevereiro, completam-se 213 anos do nascimento de Charles Dickens, em Portsmouth, Hampshire, Inglaterra.

Charles Dickens foi um dos maiores romancistas da era vitoriana, e é conhecido pelas suas obras icónicas, como "Oliver Twist", "David Copperfield", "A Tale of Two Cities" e "A Christmas Carol".

Dickens começou a trabalhar numa fábrica de graxa para sapatos aos 12 anos, quando o seu pai foi preso por dívidas. Após três anos, ele voltou a estudar e iniciou uma carreira como jornalista. O seu sucesso literário começou com a publicação em série de "The Pickwick Papers" em 1836, que se tornou um fenómeno e o transformou numa celebridade internacional.

Escreveu 15 romances, cinco livros curtos, centenas de contos e artigos de não-ficção, além de ter dado seminários e feito leituras ao vivo. Dickens também foi um defensor dos direitos infantis, da educação e de outras reformas sociais.

Faleceu em 9 de junho de 1870, com 58 anos, em Gad’s Hill, perto de Chatham, Kent, e está sepultado na Abadia de Westminster. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

ROBERT DE NIRO

Esta declaração de Robert De Niro, em 2024, sobre Donald Trump é perfeita. Vale a pena ler até ao fim.

“Passei muito tempo estudando homens maus. Examinei as suas características, os seus gestos, a absoluta banalidade da sua crueldade. Mas há algo diferente em Donald Trump.

Quando olho para ele, não vejo um homem mau. De verdade. 

Eu vejo um malvado.

Ao longo dos anos, conheci gangsters aqui e ali. Este tipo tenta ser um, mas não consegue. Existe algo chamado "honra entre ladrões".

Sim, até os criminosos costumam ter um senso de certo ou errado. Se eles fazem a coisa certa ou não é outra história, mas eles têm um código moral, por mais perverso que seja.

Donald Trump não o tem. Ele é um tipo duro em potencial, sem moral, nem ética. Sem noção de certo ou errado. Ele não tem respeito por ninguém além de si mesmo, nem pelas pessoas que deve direcionar e proteger, nem pelas pessoas com quem faz negócios, nem pelas pessoas que o seguem, cega e lealmente, nem mesmo pelas pessoas que são considerados seus “amigos”.

Sente desprezo por todos eles.

Nós, nova-iorquinos, conhecemo-lo ao longo dos anos, porque ele envenenou a atmosfera e encheu a nossa cidade de monumentos ao seu ego. Sabíamos, em primeira mão, que era alguém que nunca deveria ser considerado para um cargo de liderança.

Tentamos avisar o mundo em 2016.

As repercussões da sua turbulenta presidência dividiram os EUA e abalaram Nova Iorque para além do imaginável. Lembre-se de como a crise nos abalou no início de 2020, quando um vírus destruiu o mundo.

Vivemos com o comportamento grandiloquente de Donald Trump todos os dias no palco nacional e sofremos ao ver os nossos vizinhos a amontoarem-se em sacos para cadáveres.

O homem que devia proteger este país, colocou-o em perigo por causa da sua imprudência e impulsividade. Foi como se um pai abusivo governasse a família através do medo e da violência. Essa foi a consequência do aviso de Nova Iorque ser ignorado. Da próxima vez, sabemos que será pior.

Não nos enganemos: Donald Trump, que foi submetido a julgamento político duas vezes e foi processado quatro vezes, continua a ser um tolo. Mas não podemos permitir que os nossos compatriotas americanos o descartem como tal. O mal prospera na sombra do escárnio desdenhoso, por isso devemos levar muito a sério o perigo que Donald Trump representa.

Então hoje lançamos outro aviso. Deste lugar onde Abraham Lincoln falou, aqui mesmo, no coração pulsante de Nova Iorque, para o resto dos Estados Unidos:

Esta é a nossa última chance.

A democracia não sobreviverá ao retorno de um potencial ditador.

E não vencerá o mal se estivermos divididos.

O que fazemos então sobre isso? Eu sei que estou pregando para os já convencidos. O que estamos fazendo hoje é valioso, mas temos de levar o presente para o futuro, levá-lo para fora destas paredes.

Temos de nos aproximar de metade do nosso país que ignorou os perigos de Trump e, por alguma razão, apoia a sua ascensão de volta à Casa Branca. Eles não são estúpidos e não devemos condená-los por tomarem uma decisão estúpida. O nosso futuro não depende só de nós. Depende deles.

Vamos aproximar-nos dos seguidores de Trump com respeito.

Não falemos de "democracia". A “democracia” pode ser o nosso Santo Graal, mas para outros é apenas uma palavra, um conceito, e na sua aceitação de Trump, eles já lhe viraram as costas.

Vamos falar do certo e do errado. Vamos falar de humanidade.

Vamos falar de gentileza. Segurança para o nosso mundo. Segurança para as nossas famílias. Decência.

Não vamos conseguir todos, mas podemos obter os suficientes para acabar com o pesadelo de Trump e cumprir a missão desta "Cimeira para deter Trump". 


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O CZAR DAS FRONTEIRAS

Não sou político, nem nunca fui, nem tão pouco pretendo, ou desejo, vir a sê-lo. Muito menos comentador, e ainda menos comentador político!

Todavia, não consigo ficar indiferente ao que se passa no mundo atual, e coartar o meu pensamento.

Estamos a 12 de novembro de 2024, uma semana após as eleições norte-americanas, e o presidente eleito, Donald Trump, começa a revelar os membros do seu executivo. Hoje foi a vez de Tom Homan que vai ser responsável por todo o controlo de fronteiras dos EUA, e pela deportação de todos os emigrantes ilegais existentes no país. Para além das fronteiras terrestres terá ainda a responsabilidade da segurança marítima e aérea do país.

Cabe aqui recordar, que Homan foi chefe interino da agência de controlo de emigração e alfandegas da administração Trump, no seu primeiro mandato como presidente. Durante este período, foi uma figura central nas políticas de tolerância zero, que resultaram na separação de milhares de crianças imigrantes das suas famílias, provocando uma forte reação pública.

Mas, como já disse, não é o comentário político que me traz até este lugar. É sim o título irónico com que ele é apelidado – “O czar das fronteiras”.

Não querendo ser historiador, a palavra "czar" (ou "tsar") é um título usado, historicamente, para designar o imperador da Rússia. O título foi utilizado pela primeira vez, pelo príncipe Ivan III, no século XV, e continuou a ser usado até à abdicação de Nicolau II, em 1917, após a Revolução Russa.

Num contexto mais contemporâneo, a designação "czar" tem sido utilizada, informalmente, para referir um líder ou autoridade numa área específica. Por exemplo, é comum ouvimos falar de um "czar das drogas" ou de um "czar da tecnologia", como pessoas responsáveis por coordenar esforços num determinado contexto.

Compreende-se que, por motivos históricos, Trump não o quisesse designar como “O tennō das fronteiras”. "Tennō" (天皇), que significa "soberano celestial" ou "imperador de Deus", era o título mais comum para designar os antigos imperadores japoneses.

Embora Donald Trump tenha nascido no ano seguinte ao do lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, a memória americana não esquece a afronta japonesa, que fez com que os Estados Unidos entrassem na Segunda Guerra Mundial, e quanto custou derrotar o Japão.

É certo que a Guerra Fria terminou há mais de trinta anos, tendo sido um período de tensão política e ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS), que durou de 1947 até 1991. Durante esse tempo, o mundo foi dividido em dois blocos: o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco comunista, liderado pela URSS.

Apesar de não ter havido um confronto direto entre os dois países, a Guerra Fria teve várias consequências significativas, como a corrida ao armamento, a formação de alianças militares, como a NATO e o Pacto de Varsóvia, e conflitos indiretos em várias partes do mundo, como a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietname e a Crise dos Mísseis em Cuba.

Sabe-se que Trump tem sido uma figura controversa em relação à NATO. Durante o seu primeiro mandato como presidente dos EUA, ele frequentemente criticou os países membros da aliança, por não contribuírem suficientemente para os gastos de defesa. Chegou a ameaçar retirar os EUA da NATO se os outros países não aumentassem as suas contribuições.

Com a sua nova eleição, existem muitas preocupações sobre como ele lidará com a NATO e a guerra na Ucrânia. Como é do conhecimento geral, ele afirmou que resolveria o conflito na Ucrânia em 24 horas, mas não forneceu detalhes sobre como faria isso.

Embora marcada por uma mistura de elogios, controvérsias e especulações, a relação entre Donald Trump e Vladimir Putin tem evidenciado alguma proximidade. Durante o primeiro mandato de Trump como presidente dos EUA, ele frequentemente elogiou Putin e expressou o desejo de melhorar as relações entre os dois países. Isso gerou críticas e preocupações sobre a influência russa na política americana.

Não deixará dúvidas a ninguém que, no que depender de Donald Trump, a existir um imperador americano seria ele próprio, pelo que designar um seu súbdito como “czar”, só pode ser obra da sua ignorância. Resta saber, se ele saberá que a expressão tem origem soviética, ou se está convencido de que o seu significado é “rei dos cowboys”.

Será que a influência de Putin, de querer restaurar a URSS, e de transformar uma união republicana num novo Império Russo, poderá fazer Trump sonhar em ser o “Czar do Império Americano”?

Pode ser uma ideia parva, mas tudo é impossível até que se torne realidade!


“Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.”

Jean Cocteau (poeta e romancista francês)


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

FACEBOOK

Há precisamente 21 anos, nascia o Facebook em 4 de fevereiro de 2004, lançado por Mark Zuckerberg, juntamente com os seus colegas de quarto da Universidade de Harvard, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. Inicialmente, o site foi chamado de "thefacebook.com" e era exclusivo apenas para estudantes de Harvard.

O objetivo inicial foi criar um anuário académico digital para ajudar os alunos a conhecerem-se melhor. No entanto, o sucesso foi tão grande que o Facebook rapidamente se expandiu para outras universidades e, posteriormente, para o público em geral. Em 2005, passou-se a chamar simplesmente "Facebook".

Hoje, o Facebook é uma das maiores redes sociais do mundo, com milhões de usuários ativos, e integra o conglomerado Meta Platforms Inc., que inclui também o Instagram, o WhatsApp e o Messenger.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

SIMONE WEIL

"A ciência que não nos aproxima de Deus é inútil."

A autoria desta frase é atribuída a Simone Weil (1909-1943), filósofa e ativista francesa, nascida em Paris, e figura influente no pensamento filosófico e social do século XX. É conhecida pelas suas reflexões sobre ética, política e religião, bem como pelo seu envolvimento ativo em causas sociais e políticas. Estudou na École Normale Supérieure e trabalhou como professora antes de se envolver neste tipo de atividades.

Participou na Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e trabalhou na Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. A sua saúde deteriorou-se devido à desnutrição e à tuberculose, falecendo com 34 anos em Ashford, Inglaterra.

Entre as obras mais conhecidas da sua autoria estão "A Gravidade e a Graça" (1947), "O Enraizamento" (1949) e "Opressão e Liberdade" (1955). As suas obras foram amplamente publicadas postumamente, e continuam a influenciar o pensamento filosófico e social até aos dias de hoje. 

VISITA À FAMÍLIA

Chegou o momento de fazer uma pausa. Até ao final de junho a minha atividade neste blogue será menos regular, com alguns apontamentos pontua...