Hoje lembrei-me de
Martin Luther King, e não foi por acaso, foi por analogia. Mas para percebermos
a génese do meu pensamento temos de conhecer quem foi este homem, e o que ele
fez pelos negros americanos.
“I have a dream”,
assim disse ele no dia 28 de agosto de 1963 em Washington, no seu discurso da
aclamada Marcha da Liberdade, que reuniu mais de 250 000 pessoas na
capital dos Estados Unidos da América, para clamar, discursar, orar e cantar
por liberdade, trabalho, justiça social e pelo fim da segregação
racial contra a população negra do país.
Durante o dia,
manifestantes de todas as partes do país, cuja maior percentagem era de negros,
foram chegando à cidade, muitos deles após percorrerem várias horas por estrada,
para participarem na manifestação programada pelas lideranças negras dos EUA,
causando grande preocupação ao governo presidido por John Kennedy, um político
simpático à causa.
Havia o receio de que
a aglomeração acabasse por causar conflitos e transtornos irreparáveis, que
prejudicassem a aprovação em curso pelo Congresso da legislação
dos direitos civis, e manchasse a imagem do país internacionalmente.
Entretanto, esses
temores não se concretizaram, tendo o movimento decorrido com profunda ordem
e civismo, e a sua repercussão mundial transformou-o na maior força
política para a aprovação das leis de direitos civis e direito de voto, em
1964 e 1965.
Martin Luther King,
não tinha apenas um sonho, tinha vários. Foi o último orador desse dia marcante
da história, depois de muitas individualidades defensoras da liberdade, dos
mais variados quadrantes, terem feito ouvir a sua voz, discursando ou cantando.
Tendo nas suas costas a imponente estátua de Abraham Lincoln, o Grande
Emancipador, usou os seus talentos retóricos que desenvolvera como pastor
batista para enfatizar que o negro ainda não era livre. Pronunciou, então o seu
célebre discurso:
“Eu estou contente
em unir-me convosco no dia que entrará para a história como a maior
demonstração pela liberdade na história da nossa nação. (…)
Nós nunca estaremos
satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade
policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados
com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e nos
hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder
votar no Mississípi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo
para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos, e nós não estaremos
satisfeitos até que a justiça e a retidão fluam como águas de uma poderosa
corrente. (…)
Eu tenho um sonho
que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado da sua
crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os
homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho
que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos descendentes de
escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos, poderão se sentar
junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho
que um dia, até mesmo no estado de Mississípi, um estado que transpira com o
calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado num
oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho
que as minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver numa nação onde elas
não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter.
Eu tenho um sonho
hoje!”
Em outubro de 1964, Martin Luther King foi agraciado com o
Prémio Nobel da Paz. O seu ativismo e as conquistas alcançadas acirraram o ódio
de muitos segregacionistas do sul, o que culminou no seu assassinato em 4 de
abril de 1968, na varanda de um motel em Memphis, Tennessee, quando ele tinha
39 anos.
Em 1986 foi estabelecido o Dia de Martin Luther King como
feriado nacional nos Estados Unidos, na terceira segunda-feira do mês de
janeiro, data próxima ao seu aniversário de nascimento. Em 1993, pela primeira
vez, o feriado foi cumprido em todos os estados do país.
O sonho dele
concretizou-se na sua máxima expressão em 20 de janeiro de 2009, com a tomada
de posse de Barack Obama como 44º Presidente dos Estados Unidos da América,
o primeiro presidente Negro da sua história, dando lugar a uma nova expressão
universal: “Yes, we can”.
Sem dúvida que o sonho
de Martin Luther King se tornou realidade, quanto ao fim da discriminação
racial que existia na América, nos anos sessenta do século passado. Lamentável
é, que volvidos mais de sessenta anos, continuemos a ter muitos outros tipos de
discriminação. Erguem-se muros, deportam-se pessoas, separam-se famílias.
Recuemos ainda mais um
século, até 1863, ano em que Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados
Unidos, aboliu a escravatura no país. Foi o primeiro passo para a libertação
dos negros, mas cem anos depois, continuavam a ser discriminados.
Hoje, o processo
migratório é responsável por muitas discriminações semelhantes à racial, que se
verificava nos séculos anteriores. De forma mais sofisticada, numa sociedade
pretensamente mais evoluída e plural, fomentam-se ideias xenófobas e
chauvinistas que conduzem a uma nova forma de escravatura.
"Enquanto houver um homem escravizado,
nenhum homem é verdadeiramente livre."
Abraham Lincoln (16º presidente dos Estados Unidos)
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