Não sou político, nem nunca fui, nem tão pouco pretendo, ou
desejo, vir a sê-lo. Muito menos comentador, e ainda menos comentador político!
Todavia, não consigo ficar indiferente ao que se passa no
mundo atual, e coartar o meu pensamento.
Estamos a 12 de novembro de 2024, uma semana após as
eleições norte-americanas, e o presidente eleito, Donald Trump, começa a
revelar os membros do seu executivo. Hoje foi a vez de Tom Homan que vai ser
responsável por todo o controlo de fronteiras dos EUA, e pela deportação de
todos os emigrantes ilegais existentes no país. Para além das fronteiras
terrestres terá ainda a responsabilidade da segurança marítima e aérea do país.
Cabe aqui recordar, que Homan foi chefe interino da agência
de controlo de emigração e alfandegas da administração Trump, no seu primeiro
mandato como presidente. Durante este período, foi uma figura central nas
políticas de tolerância zero, que resultaram na separação de milhares de
crianças imigrantes das suas famílias, provocando uma forte reação pública.
Mas, como já disse, não é o comentário político que me traz
até este lugar. É sim o título irónico com que ele é apelidado – “O czar das
fronteiras”.
Não querendo ser historiador, a palavra "czar" (ou
"tsar") é um título usado, historicamente, para designar o imperador
da Rússia. O título foi utilizado pela primeira vez, pelo príncipe Ivan III, no
século XV, e continuou a ser usado até à abdicação de Nicolau II, em 1917, após
a Revolução Russa.
Num contexto mais contemporâneo, a designação "czar"
tem sido utilizada, informalmente, para referir um líder ou autoridade numa
área específica. Por exemplo, é comum ouvimos falar de um "czar das
drogas" ou de um "czar da tecnologia", como pessoas responsáveis
por coordenar esforços num determinado contexto.
Compreende-se que, por motivos históricos, Trump não o
quisesse designar como “O tennō das fronteiras”. "Tennō" (天皇),
que significa "soberano celestial" ou "imperador de Deus",
era o título mais comum para designar os antigos imperadores japoneses.
Embora Donald Trump tenha nascido no ano seguinte ao do
lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, a memória americana
não esquece a afronta japonesa, que fez com que os Estados Unidos entrassem na
Segunda Guerra Mundial, e quanto custou derrotar o Japão.
É certo que a Guerra Fria terminou há mais de trinta anos,
tendo sido um período de tensão política e ideológica entre os Estados Unidos e
a União Soviética (URSS), que durou de 1947 até 1991. Durante esse tempo, o
mundo foi dividido em dois blocos: o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o
bloco comunista, liderado pela URSS.
Apesar de não ter havido um confronto direto entre os dois
países, a Guerra Fria teve várias consequências significativas, como a corrida ao
armamento, a formação de alianças militares, como a NATO e o Pacto de Varsóvia,
e conflitos indiretos em várias partes do mundo, como a Guerra da Coreia, a
Guerra do Vietname e a Crise dos Mísseis em Cuba.
Sabe-se que Trump tem sido uma figura controversa em relação
à NATO. Durante o seu primeiro mandato como presidente dos EUA, ele
frequentemente criticou os países membros da aliança, por não contribuírem
suficientemente para os gastos de defesa. Chegou a ameaçar retirar os EUA da
NATO se os outros países não aumentassem as suas contribuições.
Com a sua nova eleição, existem muitas preocupações sobre
como ele lidará com a NATO e a guerra na Ucrânia. Como é do conhecimento geral,
ele afirmou que resolveria o conflito na Ucrânia em 24 horas, mas não forneceu
detalhes sobre como faria isso.
Embora marcada por uma mistura de elogios, controvérsias e
especulações, a relação entre Donald Trump e Vladimir Putin tem evidenciado
alguma proximidade. Durante o primeiro mandato de Trump como presidente dos
EUA, ele frequentemente elogiou Putin e expressou o desejo de melhorar as
relações entre os dois países. Isso gerou críticas e preocupações sobre a
influência russa na política americana.
Não deixará dúvidas a ninguém que, no que depender de Donald
Trump, a existir um imperador americano seria ele próprio, pelo que designar um
seu súbdito como “czar”, só pode ser obra da sua ignorância. Resta saber, se
ele saberá que a expressão tem origem soviética, ou se está convencido de que o
seu significado é “rei dos cowboys”.
Será que a influência de Putin, de querer restaurar a URSS,
e de transformar uma união republicana num novo Império Russo, poderá fazer
Trump sonhar em ser o “Czar do Império Americano”?
Pode ser uma ideia parva, mas tudo é impossível até que se
torne realidade!
“Ele não sabia que
era impossível. Foi lá e fez.”
Jean Cocteau (poeta e
romancista francês)
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