quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O CZAR DAS FRONTEIRAS

Não sou político, nem nunca fui, nem tão pouco pretendo, ou desejo, vir a sê-lo. Muito menos comentador, e ainda menos comentador político!

Todavia, não consigo ficar indiferente ao que se passa no mundo atual, e coartar o meu pensamento.

Estamos a 12 de novembro de 2024, uma semana após as eleições norte-americanas, e o presidente eleito, Donald Trump, começa a revelar os membros do seu executivo. Hoje foi a vez de Tom Homan que vai ser responsável por todo o controlo de fronteiras dos EUA, e pela deportação de todos os emigrantes ilegais existentes no país. Para além das fronteiras terrestres terá ainda a responsabilidade da segurança marítima e aérea do país.

Cabe aqui recordar, que Homan foi chefe interino da agência de controlo de emigração e alfandegas da administração Trump, no seu primeiro mandato como presidente. Durante este período, foi uma figura central nas políticas de tolerância zero, que resultaram na separação de milhares de crianças imigrantes das suas famílias, provocando uma forte reação pública.

Mas, como já disse, não é o comentário político que me traz até este lugar. É sim o título irónico com que ele é apelidado – “O czar das fronteiras”.

Não querendo ser historiador, a palavra "czar" (ou "tsar") é um título usado, historicamente, para designar o imperador da Rússia. O título foi utilizado pela primeira vez, pelo príncipe Ivan III, no século XV, e continuou a ser usado até à abdicação de Nicolau II, em 1917, após a Revolução Russa.

Num contexto mais contemporâneo, a designação "czar" tem sido utilizada, informalmente, para referir um líder ou autoridade numa área específica. Por exemplo, é comum ouvimos falar de um "czar das drogas" ou de um "czar da tecnologia", como pessoas responsáveis por coordenar esforços num determinado contexto.

Compreende-se que, por motivos históricos, Trump não o quisesse designar como “O tennō das fronteiras”. "Tennō" (天皇), que significa "soberano celestial" ou "imperador de Deus", era o título mais comum para designar os antigos imperadores japoneses.

Embora Donald Trump tenha nascido no ano seguinte ao do lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, a memória americana não esquece a afronta japonesa, que fez com que os Estados Unidos entrassem na Segunda Guerra Mundial, e quanto custou derrotar o Japão.

É certo que a Guerra Fria terminou há mais de trinta anos, tendo sido um período de tensão política e ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS), que durou de 1947 até 1991. Durante esse tempo, o mundo foi dividido em dois blocos: o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco comunista, liderado pela URSS.

Apesar de não ter havido um confronto direto entre os dois países, a Guerra Fria teve várias consequências significativas, como a corrida ao armamento, a formação de alianças militares, como a NATO e o Pacto de Varsóvia, e conflitos indiretos em várias partes do mundo, como a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietname e a Crise dos Mísseis em Cuba.

Sabe-se que Trump tem sido uma figura controversa em relação à NATO. Durante o seu primeiro mandato como presidente dos EUA, ele frequentemente criticou os países membros da aliança, por não contribuírem suficientemente para os gastos de defesa. Chegou a ameaçar retirar os EUA da NATO se os outros países não aumentassem as suas contribuições.

Com a sua nova eleição, existem muitas preocupações sobre como ele lidará com a NATO e a guerra na Ucrânia. Como é do conhecimento geral, ele afirmou que resolveria o conflito na Ucrânia em 24 horas, mas não forneceu detalhes sobre como faria isso.

Embora marcada por uma mistura de elogios, controvérsias e especulações, a relação entre Donald Trump e Vladimir Putin tem evidenciado alguma proximidade. Durante o primeiro mandato de Trump como presidente dos EUA, ele frequentemente elogiou Putin e expressou o desejo de melhorar as relações entre os dois países. Isso gerou críticas e preocupações sobre a influência russa na política americana.

Não deixará dúvidas a ninguém que, no que depender de Donald Trump, a existir um imperador americano seria ele próprio, pelo que designar um seu súbdito como “czar”, só pode ser obra da sua ignorância. Resta saber, se ele saberá que a expressão tem origem soviética, ou se está convencido de que o seu significado é “rei dos cowboys”.

Será que a influência de Putin, de querer restaurar a URSS, e de transformar uma união republicana num novo Império Russo, poderá fazer Trump sonhar em ser o “Czar do Império Americano”?

Pode ser uma ideia parva, mas tudo é impossível até que se torne realidade!


“Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.”

Jean Cocteau (poeta e romancista francês)


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