ESQUECER
Esquecer é um
tipo estranho de liberdade. No começo, é um esforço, um imenso empurrão contra
a maré das lembranças, como quem tenta caminhar sobre areia movediça. Mas, a
pouco e pouco, o esquecimento aprende a respirar dentro de nós, encontra o seu
espaço entre as lacunas da memória e infiltra-se nas entrelinhas do cotidiano.
Esquecer não
é apagar. Não é um estalo, uma chave que vira. É uma névoa lenta, um sol que se
põe devagar sobre o que um dia foi muito vivo. As vozes tornam-se ecos, os
rostos perdem os contornos nítidos, as palavras antes tão carregadas de sentido
agora soam vazias, como folhas secas levadas pelo vento.
No entanto,
há um certo medo em esquecer. Como se, ao deixar ir, estivéssemos traindo a
importância daquilo que um dia segurámos tão forte. Mas a verdade é que a vida
exige espaço para o novo e, às vezes, para seguir em frente, é preciso deixar
algumas partes de nós dissolverem-se na bruma do tempo.
Esquecer não é fraqueza. É um ato de sobrevivência. E, talvez também, um pouco de amor-próprio!
Sempre sublime, Helena Sacadura Cabral, é uma permanente inspiração de saber viver e, escrita ou falada, saber transmitir a sua sabedoria. Texto magnífico
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário, cujo conteúdo corroboro inteiramente.
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