Existem situações que são completamente previsíveis. O desfecho da relação de Donald Trump com Elon Musk era algo que qualquer indivíduo, com um mínimo de senso comum, conseguia antecipar. Neste caso, poder-se-á recriar o provérbio “zangam-se as comadres, sabem-se as verdades”, para uma nova formulação: perante a realidade, zangam-se as comadres!
Musk e Trump têm algumas coisas em comum, tais como serem
empresários bem-sucedidos, e líderes incontestáveis, com estilos peculiares e
diferenciados. A genialidade de Musk assenta numa firme determinação de
realizar projetos inovadores, mas nem sempre alicerçados em planos de
desenvolvimento bem delineados e ponderados. Contudo, a sua apetência para
resolver problemas globais, dota-o de uma capacidade extraordinária para
ultrapassar os obstáculos que surgem ao longo da execução dos projetos.
Trump é conhecido pela sua autoconfiança e desejo de
alcançar grandes objetivos, tanto nos negócios, quanto na política. Demonstra
uma forte determinação em liderar e vencer, evidenciando um gosto insaciável de
estar no centro das atenções, tendo uma habilidade natural para atrair a
atenção do público, em discursos ou interações.
Visto como alguém que toma decisões rápidas e objetivas,
muitas vezes desafiando normas estabelecidas, a sua abordagem direta e, por
vezes, confrontadora, gera tanto apoio quanto críticas. É resiliente diante de
controvérsias e mantém a sua posição com firmeza, utilizando uma forma de
comunicação simples e acessível, por vezes bastante polarizadora.
Pese embora ambos apresentarem traços de personalidades com
alguma dose de loucura, a sua essência é bastante diferente. Musk possui uma
formação académica concretizada em dois bacharelatos, um de Física e outro de
Economia, e uma curta frequência de um doutoramento em Física Aplicada. Não
possuindo, por formação, uma visão muito holística do mundo, os conhecimentos
que adquiriu formataram-no para tomar decisões assentes em factos e raciocínio lógico,
ainda que num contexto muito próprio.
Trump concluiu um bacharelato em Economia, depois de ter
completado o ensino médio na Academia Militar, aonde desenvolveu competências
de liderança e disciplina. Porém, pela sua personalidade vincada, o estabelecimento
dos seus limites raramente tem em conta os limites dos outros. Não demonstrando
interesse por outros temas, o seu foco cinge-se aos objetivos dos seus
negócios, geridos por uma intuição que raramente o deixa ficar mal. Cético perante
quase todas as áreas da ciência, guia toda a sua ação pelo instinto, que
algumas vezes o trai.
O início deste namoro improvável correu bem enquanto os
bolsos quer de um, quer de outro, não começaram a sofrer. Musk começou a fazer
algum trabalho sujo que Trump pretendia levar a cabo, como foi o caso da reforma
governamental que incluia despedimentos em massa de funcionários públicos, visando
reduzir significativamente os gastos federais e eliminar subsídios, promovendo
uma reestruturação administrativa.
O caso mais mediático foi o encerramento da Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Esta medida gerou
controvérsia, com críticos argumentando que o fecho da USAID violaria a
Constituição, já que a agência foi criada pelo Congresso e depende da sua
aprovação para mudanças significativas. O impacto desta decisão gerou enormes preocupações
pelas repercussões que implica em programas de ajuda humanitária e de desenvolvimento
global.
Quando as vendas e as ações da Tesla começaram a cair, Trump
não hesitou em ser protagonista de um anúncio televisivo em que aparecia
enaltecendo as excelentes prestações de um Tesla vermelho, contrariando tudo o
que se sabe serem as suas preferências por viaturas topo de gama de
construtores europeus.
Até que o verniz estalou no início desta segunda semana de
abril. Peter Navarro, conselheiro económico do presidente dos Estados Unidos,
numa entrevista à cadeia CNBC, disse que o processo de fabrico da Tesla consistia
apenas na assemblagem de peças.
Nesta entrevista, Navarro afirmou que Elon Musk “não é um
fabricante, mas sim um montador de automóveis” e criticou a dependência de
peças estrangeiras na produção dos veículos elétricos da Tesla. Disse ainda que
na fábrica do Texas, boa parte dos motores que ele utiliza têm origem no Japão
e na China, e toda a eletrónica em Taiwan. Este conselheiro económico, defende
o plano de tarifas da administração Trump como forma de proteger a indústria
norte-americana.
A reação de Elon Musk não se fez esperar, chamando “perfeito
idiota” a Navarro, e acusando-o de ser “mais burro do que um saco de tijolos”, e
defendendo a Tesla como “o fabricante automóvel mais verticalmente integrado
dos Estados Unidos, com a maior percentagem de componentes produzidos no país.
A deterioração da relação entre Musk e o Trump começou
quando o primeiro abandonou o cargo de líder do recém-criado Departamento de
Eficiência Governamental (DOGE), na sequência de desentendimentos sobre as
orientações estratégicas do departamento.
Parece que este namoro está a chegar ao fim, antes do
anúncio do noivado. Vaidade e poder podem agradar a Musk, mas sem que isso lhe
mexa nos bolsos. Para Trump pouco importa, pois seguirá o seu caminho,
transformando Musk em mais um dos muitos despojos de guerra que semeou durante
a sua vida.
Pensando melhor, acho que o Musk até me daria jeito para dar
títulos às minhas crónicas. Falo eu em comadres zangadas, quando estamos
perante um namoro que se rompeu! Não há pachorra…
"Os homens são
guiados por interesses, e não por princípios."
Napoleão Bonaparte
(imperador francês)
Dois trastes !!
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