segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O SONHO

Dizem (não sei se é verdade!) que tenho algum jeito para escrever, e plasmar de forma clara as minhas ideias. Concomitantemente, sempre desejei escrever um livro, mas sempre me desculpei, para mim próprio, que não tinha tempo, nem disponibilidade mental, para imaginar uma trama que prendesse o leitor. Por isso, “escolhi” ir adiando o projeto até que reunisse as condições que julgava necessárias.

Quis o destino (estranho, não é… pois em vez de “destino” poderia ter escrito “acaso”, dado que nem acredito no destino, visto que seria anular ou condicionar as “escolhas” do meu “caminho”) que no verão de 2022 dispusesse de mais tempo do que gostaria, fruto de um problema de saúde que me obrigou a esperar por uma cirurgia, limitando a minha mobilidade.

Já tinha um dos ingredientes necessários para a minha receita da escrita, o tempo, mas faltava-me o outro elemento essencial, a disponibilidade mental, para urdir um enredo de uma história única. Sim, não queria escrever uma epopeia, mas também não me bastava falar sobre banalidades.

Dominado pelo medo da cirurgia que me esperava, que tinha alguns riscos, mas que era inevitável, tentei congregar forças que me afastassem do espetro que me dominava a mente.

Disse então, para mim próprio, está na altura de começares a escrever o teu livro.

Logo me recordei de uma das minhas maiores referências literárias, a escritora chilena Isabel Allende, que diz que “a verdade para ser credível necessita de alguma ficção”. Ora, sendo assim, atrevo-me a dizer que a ficção sempre encerra um pouco de verdade. E foi com esta orientação que comecei a tentar construir uma história, que sendo autobiográfica o não parecesse, através da adoção de nomes e sexos de personagens diferentes dos reais, locais distintos e elementos fictícios que descaracterizassem a realidade, e credibilizassem a “verdade” com alguma ficção.

Consegui escrever meia página, e percebi que nem um conto seria capaz de escrever com o material que tinha, quanto mais um livro. Desisti.

Refletindo sobre a experiência, tentei ir ao âmago do que me motivava, ou podia motivar a escrever. Rapidamente me detive num desejo recorrente, da minha mente poder ter uma memória do género das dos computadores que, com um simples comando, conseguisse gravar alguns dos meus pensamentos, registando-os instantaneamente e de forma que os pudesse revisitar mais tarde e sempre que quisesse.

Percebi ainda, que “produzir” uma história inédita que seja credível, mesmo utilizando uma verdade ficcionada, além de difícil, se transformaria num objetivo pesado e pouco motivador. Não possibilitaria a materialização daquilo que verdadeiramente me apaixonava na escrita – a partilha dos meus pensamentos, reflexões e histórias que cruzaram a minha vida.

Sem cair na anarquia, quero escrever sem ter de respeitar um guião, uma sequência cronológica, ou a obrigação de gerar um determinado número de páginas por dia. Quero escrever quando me apetecer, sobre aquilo que o meu espírito no momento me pedir e as histórias que recordar, sem um final à vista e uma conclusão anunciada.

Quer entrar comigo nesta viagem sem destino, mas que pode parar e descansar sempre que lhe apetecer, ou sair se achar que deixou de fazer sentido prosseguir neste comboio?

Não lhe prometo nada, nem a verdade, pois admito que poderei colocar alguma ficção para adornar as narrativas ou proteger os personagens reais. Comprometo-me apenas a partilhar pensamentos e reflexões sinceros, em que ficará a conhecer um pouco de mim, sem filtros ou subterfúgios que me enganem a mim, antes de tentar enganá-lo.

Vamos começar a viagem…

Passaram-se já dezoito meses (um ano e meio!), desde que iniciei esta viagem. O ano de 2024 caminha para o seu final, e já escrevi mais de cem páginas do meu projeto literário, como, pomposamente, lhe gosto de chamar.

Tal como prometi, não me preocupa perseguir um final ou uma conclusão, mas sinto necessidade de colocar etapas no percurso, para que possa tomar consciência que me desloco e não me mantenho, estacado, no ponto de partida.

Compreendi então, que me estava a perder na minha história, não porque deixasse de ter um fio condutor, mas porque, de facto, não tinha uma meta para atingir. Recuando no tempo, e revivendo as minhas reflexões iniciais, o principal elemento motivador para escrever era a partilha dos meus pensamentos, reflexões e histórias que cruzaram a minha vida.

Sem que desse conta, comecei a construir uma única história, em que todos estes aspetos se integrassem e interagissem, provavelmente influenciado pelos muitos romances que li. Talvez por falta de talento, verifiquei que não tenho essa magia característica dos bons romancistas e novelistas, de criar uma narrativa harmoniosa, que consiga ligar todos esses elementos.

Com um empurrãozinho de um amigo, de quem falarei noutro texto, concluí que, provavelmente, os meus dotes de escritor (se é que os tenho?) se revelam muito mais como a de um cronista, em que a liberdade de falar sobre o que me vai na alma e na mente, está deveras muito mais alinhada com aquilo que sempre sonhei.

Os sonhos, por bem definidos que estejam na nossa cabeça, não garantem que o caminho para os alcançar esteja claro e não possa ter encruzilhadas em que temos de fazer escolhas do percurso a seguir. Como alguém disse, “o caminho faz-se caminhando”.  

 

“Seja qual for o seu sonho, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia.”

John Aster (poeta irlandês)

 

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