sexta-feira, 2 de maio de 2025

ADEUS, FRANCISCO

Francisco partiu de consciência tranquila, pois num mundo caótico como aquele em que vivemos hoje, nada mais poderia ter feito. Todavia, despediu-se da vida com a inquietude de quem deixa uma missão a meio, talvez impossível de finalizar, mesmo que os dons divinos o tornassem imortal.

O Papa Francisco, ou o Padre Jorge, como gostava que o tratassem, nasceu em Buenos Aires a 17 de dezembro de 1936, tendo sido batizado com o nome de Jorge Mario Bergoglio. Descendente de uma família de imigrantes italianos, o seu pai era um trabalhador ferroviário e a sua mãe dona de casa. Praticou basquetebol no San Lorenzo, um dos cinco grandes do futebol argentino e cujas origens haviam sido impulsionadas por um padre.  Torcedor sanlorencista assumido, afirmou que não perdeu nenhum jogo do título argentino de 1946, quando tinha então dez anos. 

Nascido e criado no bairro de Flores, atual sede do San Lorenzo, o Papa Francisco era o mais velho de cinco filhos. Tinha formação como técnico de química pela Escuela Técnica Industrial N° 27 Hipólito Yrigoyen. Ainda jovem, teve uma doença respiratória que o obrigou a submeter-se a uma cirurgia de remoção de um pulmão. Durante a sua adolescência, teve uma namorada chamada Amalia que, segundo ela, a terá chegado a pedir em casamento e afirmado que se ela não aceitasse se tornaria padre.

Foi o primeiro papa nascido na América, o primeiro pontífice do hemisfério sul, o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1 200 anos e também o primeiro papa jesuíta da história. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e foi elevado ao cardinalato em 21 de fevereiro de 2001. Foi eleito papa em 13 de março de 2013.

Ao longo de toda a sua vida pública, o Papa Francisco destacou-se pela sua humildade. Tinha uma abordagem menos formal ao papado do que os seus antecessores, escolhendo residir na casa de hóspedes Domus Sanctae Marthae, em vez de nos aposentos papais do Palácio Apostólico, usados pelos papas anteriores. Ele sustentava que a Igreja deve ser mais aberta e acolhedora, colocando ênfase na misericórdia de Deus, na preocupação com os pobres e no compromisso com o diálogo inter-religioso. Era contra o capitalismo desenfreado, o marxismo e versões da teologia da libertação. Mantinha as visões tradicionais da Igreja em relação ao aborto, casamento, ordenação de mulheres e celibato clerical.

Na diplomacia internacional, ajudou a restaurar temporariamente as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba e apoiava a causa dos refugiados das crises migratórias da Europa e da América Central. Enfrentou críticas abertas, particularmente de conservadores teológicos, sobre muitas questões. Defendeu acerrimamente o combate de abusos sexuais por membros do clero, tornando obrigatórias as denúncias e responsabilizando quem as omite.

Manteve o sorriso e o bom humor que o caracterizava até ao último suspiro. Com enormes dificuldades respiratórias pela enfermidade que o tinha mantido internado muitos dias, trabalhou ainda no dia em faleceu, tendo na véspera, Domingo de Páscoa, aparecido no meio dos fiéis na Praça de São Pedro.

Foram respeitadas as suas vontades quanto à forma como pretendia ser sepultado e o caixão em que o seu corpo devia ser depositado. Decerto teria vontade de fazer como o Pinto da Costa, e nomear os que não queria ter no seu funeral. Tenho a certeza que o pensou, e teria muito bem identificadas essas pessoas. Mas mesmo que o pudesse fazer, nunca o faria, pois era o representante máximo da Igreja, instituição que sempre defendeu ser de TODOS e TODOS acolher.

Assisti, pela televisão, aos momentos mais marcantes das exéquias e de todo o cerimonial que as envolveram. Não pelo sentido religioso, mas pela perda de um homem bom que soube usar o poder que lhe foi conferido, senti algumas lágrimas rolarem no meu rosto. Em contraste, fui por vezes invadido por um sentimento de revolta por aquilo que presenciava no espaço reservado aos convidados de honra. Que hipocrisia! Para completar tão “ilustre” plateia só faltaram Putin e Netanyahu. É evidente que no meio de tantos farsolas estava gente de bem, como Guterres e uns tantos outros.

Adeus, Francisco! Obrigado por todo o teu esforço de tentares construir um Mundo melhor, que o Homem não quis e não soube aproveitar.

 

"A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude."

 François de La Rochefoucauld (escritor e moralista francês)

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