segunda-feira, 12 de maio de 2025

OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS

Esta expressão popular, "Os últimos serão os primeiros" tem origem bíblica e aparece em diversos trechos do Novo Testamento, refletindo um princípio espiritual ensinado por Jesus, e enfatizando que no Reino de Deus a lógica humana de mérito e posição social não se aplica.

Um dos contextos em que essa frase aparece é na Parábola dos Trabalhadores da Vinha (Mateus 20:1-15), onde um proprietário contrata trabalhadores ao longo do dia e, no final, paga a todos o mesmo valor, independentemente do tempo trabalhado, gerando insatisfação entre os primeiros contratados. Jesus usou essa história para ilustrar a graça divina, que não se baseia em esforço humano, mas na generosidade de Deus.

Além do contexto religioso, a expressão também é usada de forma figurada para indicar que aqueles que inicialmente parecem estar em desvantagem podem, no final, alcançar posições de destaque. Por exemplo, na filosofia essa ideia pode ser relacionada com o conceito de justiça reversa ou compensação moral, onde aqueles que foram negligenciados ou injustiçados podem, em algum momento, alcançar reconhecimento. Esse pensamento está presente em diversas reflexões sobre mérito e destino, em obras de pensadores como Pascal e Nietzsche.

Ao longo da história, muitos indivíduos começaram como "últimos" e acabaram tornando-se figuras essenciais. Um bom exemplo é Abraham Lincoln, que teve uma infância humilde antes de se tornar presidente dos EUA. Outro exemplo é Joana d’Arc, que passou de uma simples camponesa a líder militar e símbolo nacional.

A expressão também pode ser interpretada no contexto do esforço humano e da resiliência. Pessoas que enfrentam dificuldades podem desenvolver habilidades e força que as impulsionam além daqueles que começaram com vantagens. Essa visão é frequentemente explorada em histórias de superação. Muitos filmes, livros e histórias usam essa ideia como tema central. Narrativas de personagens que começam como desfavorecidos, mas superam obstáculos para se tornarem protagonistas, são comuns na literatura e no cinema, como nas histórias d’O Conde de Monte Cristo ou do Rocky.

Mas a prosa já vai longa e ainda não expliquei porque é que esta expressão me veio à mente. Ocorreu-me por contraposição do significado da mesma, quando refletia acerca das sondagens que têm sido tornadas públicas, sobre as eleições legislativas antecipadas que decorrerão no próximo domingo em Portugal, dia 18 de maio de 2025. Penso que neste caso, dos partidos atualmente com assento parlamentar, os últimos serão mesmo os últimos.

Refiro-me ao PAN e à sua ideia peregrina de estabelecer uma rede pública de serviços médico-veterinários (SNS Animal), através da criação ou construção de Hospitais Veterinários Públicos. Quem me conhece bem sabe da relação que tenho com os animais de estimação, tendo atualmente um companheiro peludo, o Spock, um felino gato africano, preto e branco, muito meigo e brincalhão. Porém, parece-me não ser uma prioridade, até porque não entendo muito bem como se faria o recenseamento animal.

Não imagino que um partido que defende também o direito de voto aos 16 anos, pense numa medida destas apenas para animais adotados, cujos donos possam realizar o registo dos seus bichanos no SNS Animal. Então o que seria de todos os restantes animais “livres”, ditos vadios, que deambulam pelos bairros das nossas povoações? Ganhariam o estatuto de “sem abrigo animal”, ou de “imigrantes animais ilegais”, com a possibilidade de serem deportados para a Animalândia, um país imaginário e distante, com uma realidade urbana distópica aonde se comeriam uns aos outros?

Sei que chegados a este ponto poderei estar a ser insultado, no mínimo, como idiota, expressão que virou a insulto nos Big Brothers, e no uso quotidiano, sendo empregado de forma pejorativa para indicar alguém tolo, imprudente ou que age sem reflexão, esquecendo-se, no tempo, a sua origem no grego idiṓtēs, que se referia a um indivíduo que não participava da vida pública, ou seja, alguém afastado das questões sociais e políticas.

Mas deixemos as questões etimológicas, para irmos até outro partido político, que garantidamente não ficará em último, mas também não será primeiro. Refiro-me ao Chega, e aos afrontamentos, que ainda não chegaram a enfrentamentos, com a comunidade cigana nos locais por onde tem passado a caravana em campanha eleitoral. Sem retirar algum detalhe em que André Ventura possa ter alguma razão fundamentada, será que os benefícios que ele aponta em que esta comunidade é favorecida, são exclusivos deste grupo? Não será mesmo uma atitude racista e de perseguição? Bem sei que um partido que defende uma democracia ampla, em que todos paguem, mesmo que não utilizem, como é o caso da medida de abolição das portagens, não pode ser considerado segregacionista e discriminador. Sim, agora assumo que estou a ser irónico, propositadamente.

A escolha que nós, portugueses, temos de fazer no próximo domingo é difícil. Para além destes dois partidos de que falei, temos dois que apenas defendem uma pequena parcela dos trabalhadores que compõem o eleitorado nacional, cerca de um décimo. Refiro-me ao BE e à CDU. Outros dois partidos, o Livre e a IL, pretendem aportar novas ideias, mas sem provas dadas sobre a sua governabilidade. Restam-nos os dois maiores. Um que se gaba de ter posto a CP a dar lucro e a ser campeã de greves, e um Luis que pede que o deixem trabalhar, mas que não sabemos que se tal lhe consentirmos, terá tempo para governar o país.

Neste balanço, parece-me mais adequado terminar com uma outra expressão popular, diferente da que deu título a esta crónica. “Entre mortos e feridos, alguém há de escapar.”

 

"A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros."

  Henry de Montherlant (escritor, ensaísta e dramaturgo francês)


Sem comentários:

Enviar um comentário

VISITA À FAMÍLIA

Chegou o momento de fazer uma pausa. Até ao final de junho a minha atividade neste blogue será menos regular, com alguns apontamentos pontua...