segunda-feira, 3 de novembro de 2025

LAIKA: A ÓRBITA DO SILÊNCIO

Moscovo, 3 de novembro de 1957.

Ainda era madrugada quando a cidade acordou com a notícia: uma cadela tinha sido enviada ao espaço. Chamava-se Laika. Não tinha pedigree, nem nome de estrela. Fora recolhida das ruas, uma entre tantas, e treinada para um destino que nenhum ser vivo conhecia.

No centro de controlo, os engenheiros observavam os monitores com olhos fixos e mãos trémulas. O Sputnik 2 cortava o céu, levando consigo não apenas tecnologia, mas uma vida. Laika não sabia que era pioneira. Não sabia que o mundo a olhava. Respirava com esforço, o coração acelerado, o corpo preso num habitáculo metálico. Mas os olhos, dizem os que a viram antes do lançamento, estavam calmos.

Lá em cima, a Terra girava sob ela. Azul, redonda, indiferente. Laika não voltou. Mas também não caiu. Ficou em órbita da memória humana, como símbolo de um tempo em que o progresso corria mais depressa do que a compaixão.

Nenhuma estátua lhe devolve o calor do corpo. Nenhuma medalha lhe devolve o chão. Mas há vitórias que não se medem em regresso. Laika venceu, não porque sobreviveu, mas porque foi.

E nesse gesto, a razão humana foi confrontada com a sua própria sombra. 

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