Que me perdoem os meus amigos Trumpistas, Netanyahuistas,
Bolsonaristas (que tenho dificuldade em compreender), e outros que tais, mas no
meio de tantas mortes inocentes, há alguém que morre com justiça, fazendo jus
ao provérbio “quem com ferros mata, com ferros morre”. Charlie Kirk, morreu
condignamente, com um disparo de alguém que usava um direito que ele defendia:
o livre porte de arma.
Não defendo a justiça popular, embora pense que nalguns
casos é a maneira mais eficaz de pôr termo a situações que de outra forma
morrem sem que seja feita justiça. O assassinato de que foi alvo no passado dia
10 de setembro de 2025, espelha a revolta que ele gerava com as suas ideias e
posições.
Estranhei que no dia seguinte a sua mulher aparecesse serena
a falar à comunicação social, colocando-se ao lado do defunto marido nos ideais
por ele defendidos. A minha incapacidade de a entender advém da forma como ele
via as mulheres.
“Anticoncecionais… realmente baralham o cérebro feminino.
Cada um de vós precisa garantir que as suas filhas, irmãs ou namoradas não usem
anticoncecionais. Isso aumenta a depressão, a ansiedade, os pensamentos
suicidas. É o medicamento número um prescrito para jovens abaixo de 25 anos…
Isso cria jovens mulheres muito irritadas e amargas.” Mas as suas posições quanto ao universo
feminino, não ficavam por aqui…
“Mulheres no início dos 30 anos já não estão mais no seu
auge no mercado de namoro. Os 20 anos são a idade em que elas são mais
desejáveis.” E continuava referindo-se ao aborto…
“Permitimos o massacre de um milhão e meio de bebés por
ano sob o disfarce da saúde reprodutiva feminina. Dizem que não são humanos,
que são descartáveis. Nunca é certo justificar o extermínio em massa de pessoas
dizendo que são indesejadas. Foi assim que chegamos a Auschwitz, foi assim que
tivemos o maior horror do século XX.”
E sobre as prioridades e virtudes que uma mulher deve ter,
inspirando-se na Virgem Maria, propalava o seguinte:
“Elas deveriam querer, antes de tudo, ter filhos, casarem-se,
e depois ter um bom emprego… Mas muitas jovens estão invertendo essa ordem, e
isso é um problema. Maria é a solução para o feminismo tóxico. As mulheres
jovens deveriam inspirar-se nela: piedosa, complacente, reservada nas palavras.
Hoje, não falamos o suficiente sobre Maria.”
Estas frases mostram como ele articulava uma visão de papéis
femininos tradicionais, forte crítica ao feminismo moderno, defesa do pró-vida
absoluto, e até comparações de políticas reprodutivas com tragédias históricas.
Mas as suas ideias obtusas não se resumiam às mulheres. A
inconstância das suas posições assume-se na sua máxima expressão na mudança da
sua visão sobre Martin Luther King. Até 2020 referia-se a ele como herói dos
direitos civis, reconhecendo o papel dele contra a segregação. Passado um ano ainda
fazia menções positivas, mas já criticava o uso da sua imagem pela esquerda e
pelo movimento “woke”. Em 2023 sugere que o Civil Rights Act de 1964 foi um
erro, porque abriu espaço para políticas de diversidade e inclusão que ele
rejeita, e em 2024 declara abertamente que Martin Luther King era “terrível” e
“não uma boa pessoa”.
Afirma que o discurso
“I Have a Dream” foi “a única coisa boa que ele disse, mas que nem ele
acreditava”. Considera que há um “mito exagerado e endeusamento” sobre ele nos
EUA, criticando o seu legado dizendo que resultou em “famílias negras
destruídas, dependência do governo e más condições urbanas”.
Em relação à imigração Charlie Kirk era radicalmente contra a
imigração ilegal e queria reduzir fortemente a imigração legal, defendendo
fronteiras fechadas, prioridade para trabalhadores americanos e preservação
cultural.
Não existem provas diretas de que Charlie Kirk se identificasse
como racista ou promovesse abertamente ideologias racistas clássicas, como a supremacia
branca. Porém, as suas afirmações e posições frequentemente aproximavam-se de
narrativas usadas por grupos racistas, especialmente sobre imigração e direitos
civis. Isso fez com que muitos críticos o classificassem como alguém que normaliza
ou legitima ideias raciais excludentes, mesmo que não se assumisse como tal.
Charlie Kirk misturava liberalismo económico clássico
(estado mínimo e mercado livre) com conservadorismo cultural (valores
tradicionais, nacionalismo e crítica ao progressismo). As suas posições eram
socialmente marginadoras, sendo contra a grande parte das pautas do movimento
LGBTQIA+, contra o aborto, e a defesa do direito à posse de armas.
Foi precisamente este último direito que defendia que o
matou. Uma espécie de justiça divina, perpetrada pela mão do homem. Talvez aqui
se possa mesmo dizer que “Deus escreve direito por linhas tortas”!
"O mal que
fazemos é o mal que recebemos."
Lao-Tsé (filósofo chinês,
considerado o fundador do Taoismo)